INB afirma que instalações na cidade dispõem de ‘condições apropriadas’ para monitoramento de rejeitos.
André Borges, O Estado de S.Paulo – 02 de outubro de 2021 | 13h00
Diante da fervura, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) procura colocar panos quentes na discussão e diz que o destino do lixão radioativo ainda está em aberto, apesar de defender abertamente que a cidade de Caldas seria o melhor caminho para guardar o material de Interlagos.
Em resposta enviada à reportagem, a INB declarou que a unidade mineira “dispõe de condições apropriadas para a monitoração dos rejeitos e resíduos ali armazenados”, porque tem “dois laboratórios adequados e recursos humanos especializados, aptos para a correta gestão dos resíduos”.
A destinação final, porém, segue em aberto. “A INB estuda as opções possíveis e, assim que tiver uma proposta, irá submeter a solução que julgar mais adequada à aprovação dos órgãos fiscalizadores, que são o Ibama e a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Nenhum material será transferido sem que previamente seja apresentada e discutida a solução com todas as partes envolvidas”, afirmou.
O Estadão questionou a INB se a estatal avalia a possibilidade de enviar o lixo radioativo para a sua base em Caetité, na Bahia, onde explora a maior jazida de urânio da América Latina e extrai o material usado para produzir as pastilhas de urânio das usinas nucleares de Angra, no Rio de Janeiro. A companhia declarou que “Caetité é uma unidade em produção” e que “não se considera esta hipótese.”
Não é de hoje que a situação do armazenamento de lixo radioativo em Caldas é criticada pelo município devido às condições precárias na guarda do material. No fim de 2017, o Tribunal de Contas da União fez uma auditoria nos gastos com depósitos da INB em Caldas, Itu e em São Paulo, para averiguar as condições de segurança e uso dos recursos públicos nestas ações.
O trabalho constatou “condições inadequadas de guarda do material Torta II” em Caldas, que exigiam “adoção imediata de medidas mitigadoras pela INB”. Foram identificadas “situações diversas de armazenamento e inconformidades para cada um dos depósitos”.
O relatório destacava ainda que, apesar de encontrar “armazenagem de material radioativo de forma inadequada”, verificou que a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), responsável pela fiscalização dos depósitos, “aponta as inconformidades reiteradamente, mas a INB, responsável por corrigir as inconformidades, não adota as providências necessárias”.
Questionada sobre o assunto, a INB afirmou que “trabalha na direção de promover melhorias nas condições de armazenamento de resíduos” em Caldas. A estatal declarou que “muitos destes serviços foram inicialmente previstos para o ano de 2020, mas tiveram que ser adiados devido à pandemia”.
“Em junho deste ano, foi realizada a substituição total das telhas da cobertura e do fechamento lateral de galpão utilizado para estocagem de Torta II. O trabalho foi fiscalizado pela Cnen e transcorreu com toda a segurança”, disse a INB.
A estatal declarou ainda que vai construir um “novo ponto de controle de acesso à área de estocagem de Torta II” em Caldas, com a substituição das coberturas dos silos de concreto, além de melhoria nas condições dos materiais embalados, ação prevista para ser iniciada em dezembro deste ano.